E que se feche o interior.

26 de Junho de 2010

em Arouca,Política

A questão do fecho das escolas do primeiro ciclo volta a estar na primeira linha da actualidade. Depois do fecho já consumado de escolas com menos de dez alunos o desiderato agora assumido é de vinte. …E quem sabe, um dia destes de trinta ou mesmo quarenta.
Enquanto Sócrates considera “criminoso” não encerrar escolas com menos de 20 alunos, a sua ministra, Isabel Alçada, vangloriava-se do feito do Ministério da Educação ter encerrado nos últimos quatro anos cerca de 2500 escolas. Pelo meio a generalidade dos autarcas coloca em causa esta medida, os sindicatos de professores e os pais.
Por sua vez o secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa afirmava, em Alpiarça, que “será um crime” encerrar escolas com 20 alunos num «anúncio que consubstancia uma visão meramente economicista…atingindo particularmente as populações do Interior e as suas crianças», acrescentando que, «além das assimetrias regionais, vão também agora ser penalizados com mais assimetrias sociais». Em sua opinião, que é a percepção generalizada de quem sofre e conhece o interior rural, fechar escolas é por em causa verdadeiros «pólos de desenvolvimento e fixação da juventude e jovens casais”.  
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho também criticou o encerramento de escolas, questionando o Governo sobre o número de institutos públicos que vai encerrar “O encerramento de escolas com poucos alunos é uma exigência pedagógica e uma exigência financeira e a gente pergunta: quantos institutos públicos decidiu o Governo encerrar em Portugal?”, questionou. “Quantos lugares de assessores e adjuntos vai o Governo declarar que vai pôr fim nos próprios gabinetes do Governo?”, acrescentou.
Olhando para Arouca, sobretudo o que aconteceu nos últimos anos e sendo a partir daqui possível, porque legítimo, avocar o que se passou e passa no interior do país, fica a ideia
do «carro à frente dos bois». Primeiro encerrou-se as escolas com base em critérios «aplicados de forma cega e administrativa» não tendo sequer havido a preocupação de construir previamente os centros escolares que poderiam acolher as crianças oriundas das «primárias» que fecharam segundo o cego critério anunciado pelo Governo. A solução foi (ainda o é) os famigerados contentores que proliferam em grande número na nossa paisagem! Acresce a tal que, em algumas situações, as crianças estão hoje forçadas a demoradas deslocações em transportes, alguns dos quais sem qualidade.
Fechar «de novo» todas as escolas nas condições agora anunciadas tendo como base uma visão tecnocrática a partir da 5 de Outubro é dificilmente explicável por razões que não apenas financeiras e de curto prazo. A médio e longo prazo, este é o caminho certeiro para acabar de matar o interior.
A escola é porventura o último elo que faz escapar uma comunidade da extinção. O que faria sentido era que, quem de direito, criasse as condições necessárias para a fixação das populações.
«Fechar uma escola é fechar uma aldeia» – atrás das crianças vão os pais; atrás dos pais vão os empregos e a economia local, o pequeno mas ainda válido comercio, a vida activa e os centros de interesse. Tal como já é verificável em muitas aldeias de Arouca restam os avós, o vazio, as casas abandonadas, a morte de cada terra de cada lugar.
Tal como escreveu sobre esta matéria Miguel Sousa Tavares (expresso de 5 de Junho de 2009) «Se alguém pensasse Portugal a longo prazo ou se, ao menos, estudasse o seu passado recente, veria que este é o maior erro que cometemos. Poupamos hoje, pagamos amanhã. E caro.”.

Públicado na edição de Junho do Jornal «Roda Viva»

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1 joaquim toscano 3 de Julho de 2010 às 17:09

Eu sei que este blog tem Censura Prévia…
Mas o que o prof quer dizer com “o carro à frente dos bois”
Não serà mais …”O carro à frente dos Boys”???
Quanto ao resto …é o que se sabe…
Daqui a vinte anos…só a faixa litoral porque o resto
DESERTO… e, então “Jamais…”

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